Estrutura Profunda e Estrutura de Superfície – Parte 2

Uma frase tem um aspecto mental interior (uma estrutura profunda que transporta seu significado) e um aspecto exterior, físico, enquanto seqüência de sons. Sua análise de superfície em frases pode não indicar as conexões significativas da estrutura profunda nem por qualquer sinal formal nem pelo arranjo real das palavras. A estrutura profunda é, porém, representada no espírito à medida que a expressão vocal, física é produzida. A estrutura profunda consiste em um sistema de proposições, organizado de várias maneiras. As proposições elementares que constituem a estrutura profunda são da forma sujeito-predicado, com sujeitos e predicados simples (isto é, categorias em vez de frases mais complexas). Para produzir realmente uma frase, partindo da estrutura profunda que transporta o pensamento expresso, é necessário aplicar regras de transformação que arranjam, substituam ou eliminem elementos da frase. Algumas destas são obrigatórias outras são optativas.

A teoria da estrutura profunda e superficial, tal como foi desenvolvida nos estudos lingüísticos, contém implicitamente mecanismos recursivos, e com isso permite o uso infinito dos meios finitos de que dispõe. As regras transformacionais de cancelamento, rearranjo, etc. não desempenham nenhum papel na criação de novas estruturas.

Podemos descrever a sintaxe de uma língua em função de dois sistemas de regras: um sistema de base, que gera estruturas profundas, e um sistema transformacional, que as cartografa em estruturas de superfície.

Passando da concepção geral da estrutura gramatical aos casos específicos da análise gramatical, encontramos muitas outras tentativas na gramática de desenvolver a teoria da estrutura profunda e de superfície. Assim, os advérbios são analisados como surgindo do desejo que os homens têm de abreviar o discurso, sendo assim formas elípticas de construções preposição-nome, por exemplo: sabiamente por com saber, hoje por neste dia ou embora por em boa hora. O verbo, pois, é uma palavra cujo principal uso é significar a afirmação, isto é, indicar que o discurso onde esta palavra é empregada é o discurso de um homem que não somente concebe as coisas, mas as julga e as afirma. Usar um verbo, portanto, é executar o ato da afirmação, e não simplesmente referir-se à afirmação, enquanto objeto de nosso pensamento.

A forma lógica real de uma frase pode ser de todo diferente de sua forma gramatical de superfície. De modo geral, indica que o que é afirmativo ou negativo na aparência pode ser, ou não, no significado, isto é, na estrutura profunda. Por exemplo:

A frase Poucas pessoas hoje em dia estão prontas para dar a vida por seus irmãos, embora superficialmente afirmativa na forma, realmente contém implicitamente a frase negativa Muitas pessoas hoje em dia não estão prontas para dar a vida por seus irmãos.

Advérbios e locuções adverbiais

Os advérbios não constituem uma categoria da estrutura profunda, mas funcionam somente para significar em uma só palavra o que não se poderia marcar senão por uma preposição e um nome. Embora uma frase adverbial tal como com sabedoria não se distingue do advérbio correspondente sabiamente em sua significação, pode diferir nas idéias acessórias associadas a ela: quando se trata de pôr um ato em oposição com o hábito, o advérbio é mais adequado para marcar o hábito, e a frase adverbial para indicar o ato: um homem que se conduz sabiamente não pode esperar que todas as suas ações serão feitas com sabedoria. Esta distinção é um caso particular da aversão que todas as línguas naturalmente têm por uma sinonímia inteira, que só enriqueceria um idioma com sons inúteis para a exatidão e a clareza da expressão.

Construções figuradas

As construções figuradas não são compreendidas senão porque o espírito retifica a sua irregularidade com o auxílio de idéias acessórias, que fazem compreender o que se lê e o que se ouve, como se o sentido fosse enunciado na ordem da construção simples.

As transformações que formam uma construção figurada operam por reordenação e elipse. O princípio fundamental de toda sintaxe é que a reordenação e a elipse devem ser restabelecíveis pelo espírito ouvinte, isto é, só podem ser aplicadas quando é possível restabelecer de modo único a ordem seca e metafísica da construção simples.

Em suma, a sintaxe de uma expressão é assim essencialmente aquilo que chamamos sua estrutura profunda; sua construção é aquilo que chamamos sua estrutura de superfície.

8 comentários em “Estrutura Profunda e Estrutura de Superfície – Parte 2

  1. Olá, estava procurando sobre alomorfia radicalar e encontrei seu blog, gostei muito!

    e adorei essa materia sobre estrutura profunda; voliçoes, desejos humanos, realmente a linguagem tem uma logica muito grande!!

    vlww o blog cara! parabens!

  2. Já li tantas coisas sobre estrutura profunda e superficial, mas suas palavras foram mais claras para o meu entendimento. Obrigada! Parabéns!

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